Tecnologia, inovação e pesquisa: participantes do curso Gestão de Recursos de Defesa visitam CCM do Ita e instalações da Embraer e Avibrás
Em São José dos Campos, estagiários visitaram o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial do Comando da Aeronáutica, além de instituições dedicadas ao desenvolvimento da defesa e segurança nacional
Mayara Moraes, Agência Indusnet Fiesp
Após um mês de aulas teóricas ministradas na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os integrantes da turma de 2019 do Curso de Gestão de Recursos de Defesa (CGERD) – uma iniciativa promovida pela Escola Superior de Guerra em parceria com a Fiesp – tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho que empresas, universidades e incubadoras nacionais tem realizado em prol do desenvolvimento de pesquisa, tecnologia e inovação, as três grandes forças matrizes da evolução da base industrial de defesa brasileira.
Em visita técnica em São José dos Campos, deu-se continuidade ao compromisso em incentivar a inovação na indústria brasileira, que também pôde ser visto no Centro de Competências em Manufatura (CCM) do ITA. Com caráter multidisciplinar e o propósito de trabalhar em prol do alinhamento estratégico entre a indústria e as Forças Armadas, o CCM se beneficia de parcerias com grandes nomes como Fraunhofer, General Motors e Akaer a fim de desenvolver manufaturas e ferramentas de última geração para os mercados nacional e internacional. Com uma equipe especializada em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos, o CMM projeta ferramentas usadas nas áreas de processos de fabricação (usinagem, manufatura aditiva); automação (robótica, mecatrônica, controle); metrologia e manufatura digital (otimização da fábrica e redução de custos).
“Nossa missão é desenvolver trabalhos que atendam as necessidades da sociedade, da indústria e das Forças Armadas, e alçar o Brasil a uma posição de grande exportador de tecnologia”, explicou Ronnie Rego, diretor do CCM. “A grande ideia é desenvolver tecnologia na fabricação e não na aplicação”, destacou.
As instalações do CCM também contemplam o Laboratório Aberto, espaço equipado com impressas 3D, máquinas de corte a laser e medição por coordenadas, dedicado a alunos, professores e startups interessadas em desenvolver protótipos de baixo custo, aprimorar seus projetos e testar novas soluções. Ele é o grande responsável pelo ITA Challenge, concurso que dá aos estudantes a oportunidade de aprender e aplicar seus conhecimentos para transformar ideias em negócios, em um dos mais avançados laboratórios da América Latina. Em 2018, cerca de 440 competidores, divididos em 114 equipes de todo o Brasil participaram do desafio.
A iniciativa arrancou elogios da advogada Veridiana Dacolina, que participa do CGERD em 2019, após quatro anos de tentativas. “É legal ver que temos ensino de ponta, que estamos concatenados com o mundo e fazendo cooperação internacional, mas agora temos que cuidar da remuneração desses profissionais, dar condições para eles permanecerem no Brasil e divulgar ações como o ITA Challenge para que todos possam trabalhar juntos”, disse a magistrada.
Outro órgão que investe em tecnologia e inovação é o Parque Tecnológico de São José dos Campos. Criado em 2009 pela prefeitura da cidade, o centro abriga mais de 300 empresas especializadas no desenvolvimento de pesquisa e inovação, além de uma incubadora que facilita a cooperação de instituições de pesquisa com startups.
Considerado um hub de projetos, o Parque Tecnológico de São José dos Campos também incentiva a competitividade por meio de seus laboratórios multiuso, centros de desenvolvimento tecnológico e projetos que promovem a ciência, o empreendedorismo e o desenvolvimento sustentável, como o Cluster Aeroespacial e de Defesa, ao qual estão associadas mais de 110 empresas do setor aeroespacial. Todas elas se beneficiam de uma série de vantagens, como certificação de produtos e serviços, workshops e oficinas de desenvolvimento de produto, e atividades de promoção comercial.
“Colocamos à disposição dessas empresas um laboratório de manufatura avançada, no qual podem ser feitos testes e protótipos, um laboratório de sistemas críticos, onde são realizados o desenvolvimento e a otimização completa de produtos, e um laboratório de estruturas leves, voltado para a aplicação de processos produtivos para novos materiais”, observou Rodrigo Mendes, responsável pela área de internacionalização do parque.
Ele explica que outra maneira usada pelo complexo para dar suporte estratégico às empresas são as parcerias e os convênios firmados com órgãos como ITA, Apex Brasil e Governo Federal. “Temos trabalhado de forma conjunta com esses órgãos em missões, feiras e rodadas de negócios, e inclusive, promovendo a atração de investimentos e a internacionalização das empresas brasileiras por meio de acordos de cooperação com clusters do exterior”, contou o especialista.
Roberto Comodo, coronel de Reserva da Força Aérea, desenvolvedor de negócios da Atech e participante do CGERD 2019, contou que sua experiência com os serviços prestados pelo Cluster foi bastante promissora. “Por meio do Parque Tecnológico de São José dos Campos, tivemos contato com uma empresa do setor de Defesa da Inglaterra, participei de reuniões com um conglomerado árabe e fiz parte de uma rodada de diálogos entre o Brasil e a Suécia na qual governo, indústria e universidades estiveram presentes”, lembrou. “Iniciativas como essa nos dão a chance de fazer networking e encontrar grandes oportunidades”, ressaltou.

Integrantes do Curso de Gestão de Recursos de Defesa (CGERD), realizado na Fiesp, em parceria com a Escola Superior de Guerra, visitam o Centro de Competências em Manufatura (CCM) do ITA. Foto: Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE)/Sargento Frutuoso
Arrojo nacional
Visitados os grandes polos de inovação do país, os alunos conhecerem duas das empresas de maior expressão no setor de defesa e segurança dentro e fora do Brasil: a Avibrás e a Embraer.
Especializada em desenvolvimento, produção e integração de sistemas inteligentes de defesa, a Avibrás Industria Aeroespacial goza de laços comerciais consistentes com outros países, principalmente do Oriente Médio e Sudeste Asiático. Embora seja uma empresa 100% nacional, tenha a preocupação de buscar no mercado doméstico fornecedores que agreguem valor à sua cadeia e possua parcerias com as Forças Armadas e o setor espacial brasileiro, a Avibrás tem cerca de 80% de sua produção direcionada ao mercado externo. Nos últimos cinco anos, a empresa teve um faturamento médio de US$ 330 milhões, dos quais 86% são resultado de exportações.
Focada em engenharia de sistema, eletrônica embarcada e sistemas de gerenciamento, navegação e controle, a Avibrás tem competências no setor de mísseis e foguetes e nas áreas veicular, aeroespacial, química, software e eletrônica. Elencada como uma das 100 maiores empresas do mundo e detentora da maior fábrica de blindados da América Latina, a Avibrás se orgulha de colocar o Brasil na seleta lista de países que detêm tecnologia de um míssil de cruzeiro, cujo alcance pode chegar a 300 km. Aliás, foguetes de última geração, munições guiadas, motores para veículos lançadores de satélites e uma usina de PBHT – insumo fundamental para os foguetes do novo Programa Espacial Brasileiro – são alguns dos grandes projetos em desenvolvimento pela empresa.
“Nossa missão é desenvolver tecnologia própria e ser referência com produtos únicos”, enalteceu o gerente geral de vendas da Avibrás, Fernando Ikedo. “Pouquíssimas nações no mundo detêm o conhecimento sobre soluções que nós criamos”, observou.
Entre 2014 e 2018, a Avibrás arrecadou US$ 568 milhões em contratos firmados com o governo brasileiro, e, em contrapartida, contribuiu com o pagamento de US$ 736 milhões em tributos diretos. “Isso mostra que cada real investido nessa empresa gera, de fato, resultados e divisas para o país”, ressaltou.
Embraer
Criada em 1969 pelo governo brasileiro para desenvolver engenharia aeronáutica e produzir aviões, a Embraer tornou-se uma empresa privada em 1994 a fim de combinar os conhecimentos tecnológico e industrial com a abordagem empresarial. Presente na Bolsa de Valores de Nova York, mas com controle majoritariamente brasileiro, a Embraer emprega quase vinte mil pessoas dentro e fora do Brasil e possui mais de cinco mil pessoas dedicadas a pesquisa e desenvolvimento. Em 2017, a empresa investiu US$ 430 milhões em P&D e CAPEX, seguindo uma estratégia iniciada anos atrás. Cerca de 51% da receita líquida da empresa provêm de inovações implantadas entre 2011 e 2016. Com o lançamento da Boeing Brasil Comercial, empresa de aviação comercial criada pela Embraer e pela Boeing e com previsão de conclusão para o final de 2019, o conglomerado deve intensificar o intercâmbio de engenharias e tecnologia de ponta.
Fabricante de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares e peças aeroespaciais, a Embraer foi a maior exportadora brasileira de produtos de valor agregado nos últimos dez anos, arrecadando cerca de US$ 10 bilhões.
“Temos mais de oito mil aeronaves no mundo fabricadas pela Embraer”, revelou Sergio Aita, diretor de Relações Institucionais da Embraer. “A cada 10 segundos, de algum aeroporto do mundo, decola uma aeronave da Embraer”, acrescentou o especialista. Segundo dados da empresa, mais de 60 países em todo o mundo operam produtos e sistemas desenvolvidos pela Embraer.
Internamente, a gigante tecnológica e suas subsidiárias se preparam para assinar contratos futuros com órgãos de segurança pública brasileiros, enquanto mantêm fortes parcerias com as Forças Armadas nacionais. Um dos carros-chefes da empresa, o Super Tucano, avião com mais de 250 mil horas de combate é um case de sucesso reconhecido mundialmente e adotado há anos pela Aeronáutica brasileira.
Durante visita aos hangares da fábrica da empresa, em São José dos Campos, os alunos tiveram a oportunidade de conhecer aeronaves comerciais e executivas produzidas pela empresa, como os modelos Legacy e Praetor. “Dá muito orgulho de ser brasileira e ver que nós não dependemos exclusivamente de outros países”, disse a advogada Veridiana Dacolina, que participa do CGERD 2019.
De acordo com o coronel Figueira da Força Aérea, poder ver de perto instalações que contribuem para o fortalecimento da base de indústria brasileira é também uma oportunidade para refletir sobre o papel de cada um de nós como apoiadores do sistema de defesa brasileiro e do próprio Brasil.
“Tudo o que a gente vê aqui desperta o nosso interesse de conhecer mais a base industrial de Defesa e a área de inovação e tecnologia”, contou o militar. “Saímos daquele micromundo de problemas internos e começamos a ver em nível institucional, mundial e nacional com podemos nos colocar e buscar soluções para melhorar a defesa no Brasil”, completou.