Na visão de professores da UFRJ e USP, Brasil precisa estreitar relações com a China
Em debate na Fiesp, docentes ressaltam papel da educação no gigante asiático
Talita Camargo, Agência Indusnet Fiesp

Professor Claudio Habert, do Programa de Engenharia Química do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ. Foto: Everton Amaro
O Brasil precisa estreitar relações comerciais com a China e seguir o exemplo daquele país, sobretudo no que diz respeito à competitividade e à educação. O alerta é dos professores Claudio Habert (Programa de Engenharia Química do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Coppe/UFRJ) e Afonso Fleury (Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP).
Os dois docentes participaram nesta terça-feira (04/09) do seminário “A competitividade Industrial Chinesa no Século XXI”, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no qual debateram as possibilidades tecnológicas na indústria chinesa.
Habert, do Coppe/UFRJ, ponderou que a análise sobre a relação Brasil-China deve ser pautada por uma postura crítica, devido às grandes diferenças cultural e histórica existentes entre os dois países. “O pragmatismo e o empreendedorismo chinês e a civilização milenar são características muito fortes dessa sociedade”, ressaltou.
No seu entendimento, há muito espaço para negociações entre as duas nações. Para isso, no entanto, é necessária uma mudança de comportamento por parte do Brasil. “A indústria brasileira precisa de mais informações sobre a China, pois há oportunidades naquele mercado, mas uma mudança cultural é absolutamente necessária”, sublinhou.
Tecnologia avançada
Habert explicou que o desemprego é um fantasma na China porque cada setor e cada região mantém suas indústrias abertas com incentivos do governo. Além disso, salientou, o desenvolvimento tecnológico avançado do gigante chinês deve-se à importância dada à inovação – a indústria, por exemplo, recebe incentivos do governo para investir em centros de pesquisa e nas universidades.

Professor Afonso Fleury, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP. Foto: Everton Amaro
“Há um esforço das universidades e centros de pesquisa, na China, que geram resultados impensáveis no Brasil”, observou o especialista da Coppe/UFRJ, ressaltando que os professores universitários daquele país são incentivados a abrir suas próprias empresas. “Professores acadêmicos são inseridos no mundo dos negócios, e os empresários investem na educação e criam modelos de universidades locais.”
Para Habert, não se pode afirmar que os baixos salários chineses justificam a competividade. “Essa argumentação é infundada porque há, na China, salários compatíveis com o mercado ocidental”, afirmou o professor, que considera importante pensar-se em ações de colaboração para negociações entre Brasil e China. “A imagem no Brasil na China é muito pobre e precisa melhorar, pois a China está presente e não próxima.”
Educação
Na avaliação do professor Afonso Fleury, da USP, a principal diferença entre Brasil e China é a educação. “Estamos engatinhando”, afirmou ao destacar números que registram 120 mil alunos chineses matriculados nas universidades dos Estados Unidos, contra 4.000 alunos da América Latina.
Fleury acredita que a atual situação da China é altamente preocupante para o Brasil. “Estamos vendo a onda passar e não estamos fazendo o esforço necessário para surfar”, concluiu.
Últimas notícias
Continue lendo
- Notícias Consumo da China ainda é bastante elevado, apesar da perda de competitividade industrial, diz secretário da SAE
- Notícias Custo da mão de obra na China não explica isoladamente competitividade do país, diz professor da USP
- Notícias Brasil tem oportunidade e desafio ante mudança de modelo de desenvolvimento da China, diz especialista
- Notícias Economia brasileira sofre com redução de demanda chinesa, afirma embaixador Rubens Barbosa